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Racionais MC's - Tô Ouvindo Alguém me Chamar
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Credits

AUSFÜHRENDE KÜNSTLER:INNEN
Racionais MC's
Racionais MC's
Künstler:in
KOMPOSITION UND LIEDTEXT
Mano Brown
Mano Brown
Songwriter:in

Lyrics

[Verse 1]
(Aí, mano o Guina mandou isso aqui pra você)
[Verse 2]
Tô ouvindo alguém gritar meu nome
Parece um mano meu, é voz homem
Eu não consigo ver quem me chama
É tipo a voz do Guina
Não, não, não, o Guina tá em cana
Será? Ouvi dizer que morreu, sei lá
Última vez que eu o vi
Eu lembro até que eu não quis ir, ele foi
Parceria forte, aqui era nós dois
Louco, louco, louco e como era
Cheirava pra carai, vixe, sem miséria
[Verse 3]
Todo ponta firme, meu professor no crime
Também mó sangue frio, não dava boi pra ninguém
Hã, puta, aquele mano era foda
Só moto nervosa, só mina da hora, só roupa da moda
Deu uma pá de blusa pra mim, naquela fita, na butique do Itaim
Mas sem essa de sermão, mano, eu também quero ser assim
Vida de ladrão não é tão ruim
[Verse 4]
Pensei, entrei, no outro assalto eu colei e pronto
Aí o Guina deu mó ponto
(Aí, é um assalto, todo mundo pro chão, pro chão)
(Aí, filha da puta, aqui ninguém tá de brincadeira, não)
(Mais eu ofereço o cofre, mano, o cofre, o cofre)
[Verse 5]
Pela primeira vez vi o sistema aos meus pés
Apavorei, desempenho nota dez
Dinheiro na mão, o cofre já tava aberto
O segurança tentou ser mais esperto (Então)
Foi defender o patrimônio do playboy (Cuzão)
Não vai dar mais pra ser super-herói
[Verse 6]
Se o seguro vai cobrir, ha ha
Foda-se e daí?
O Guina não tinha dó, se reagir, bum, vira pó
Sinto a garganta ressecada
E a minha vida escorrer pela escada
Mas se eu sair daqui eu vou mudar
Eu tô ouvindo alguém me chamar
Eu tô ouvindo alguém me chamar
[Verse 7]
Tinha um maluco lá na rua de trás
Que tava com moral, até demais
Ladrão (Ladrão) e dos bons
Especialista em invadir mansão
Comprava brinquedo à reviria
Chamava a molecada e distribuía
Sempre que eu via, ele tava só
O cara é gente fina, mas eu sou melhor
Eu aqui na pior e ele tem o que eu quero
Jóia escondida e uma três oito zero
No desbaratino ele até se crescia
Se pã, ignorava até que eu existia
[Verse 8]
Tem um brilho na janela, é então
A bola da vez tá vendo televisão
Psiu, vamo, vai, entramo
Guina no portão, eu e mais um mano
Como é que é neguin?
Se dirigia a mim e ria, ria, como se eu não fosse nada
Ria, como fosse ter virada
Estava em jogo meu nome e atitude
Era uma vez Robin Hood
Fulano sangue ruim, caiu de olho aberto
Tipo me olhando, é, me jurando
Eu tava bem de perto e acertei os seis
O Guina foi e deu mais três
[Verse 9]
Lembro que um dia o Guina me falou
Que não sabia bem o que era amor
Falava quando era criança
Uma mistura de ódio, frustração e dor
De como era humilhante ir pra escola
Usando a roupa dada de esmola
E ter um pai inútil, digno de dó
Mais um bêbado, filha da puta e só
Sempre a mesma merda, todo dia igual
Sem feliz aniversário, Páscoa ou Natal
Longe dos cadernos, bem depois
A primeira mulher e o vinte e dois
Prestou vestibular no assalto do busão
Numa agência bancária se formou ladrão
Não, não se sente mais inferior
Aí, neguinho, agora eu tenho o meu valor
[Verse 10]
Guina, eu tinha mó admiração, ó
Considerava mais do que o meu próprio irmão, ó
Ele tinha um certo dom pra comandar
Tipo, linha de frente em qualquer lugar
Tipo, condição de ocupar um cargo bom e tal
Talvez em uma multinacional, é foda
Pesando bem que desperdício
Aqui na área acontece muito disso
Inteligência e personalidade
Mofando atrás da porra de uma grade
Eu só queria ter moral e mais nada
Mostrar pro meu irmão os cara da quebrada
Uma caranga e uma mina de esquema
Algum dinheiro resolvia o meu problema
[Verse 11]
O que eu tô fazendo aqui?
Meu tênis sujo de sangue e aquele cara no chão
Uma criança chorando, eu com um revólver na mão
Ou era um quadro do terror e eu que fui o autor
Agora é tarde, eu já não podia mais
Parar com tudo, nem tentar voltar atrás
Mas no fundo, mano, eu sabia
Que essa porra ia zoar minha vida um dia
Me olhei no espelho e não reconheci
Estava enlouquecendo, não podia mais dormir
Preciso ir até o fim
Será que Deus ainda olha pra mim?
Eu sonho toda madrugada
Com criança chorando e alguém dando risada
Não confiava nem na minha própria sombra
Mas segurava minha onda
[Verse 12]
Sonhei que uma mulher me falou, eu não sei o lugar
Com um conhecido meu, quem ia me matar?
Precisava acalmar a adrenalina
Precisava parar com a cocaína
Não tô sentindo meu braço
Nem me mexer da cintura pra baixo
Ninguém na multidão vem me ajudar
Que sede da porra, eu preciso respirar
Cadê meu irmão?
Eu tô ouvindo alguém me chamar
[Verse 13]
Nunca mais vi meu irmão
Diz que ele pergunta de mim, não sei, não
A gente nunca teve muito a ver, outra ideia, outro rolê
Os maluco lá do bairro já falava de revolver, droga, carro
Pela janela da classe eu olhava lá fora
A rua me atraia mais do que a escola
Fiz dezessete, tinha que sobreviver
Agora eu era um homem, tinha que correr
No mundão você vale o que tem
Eu não podia contar com ninguém
Cuzão, fica você com seu sonho de doutor
Quando acordar cê me avisa, morô?
Eu e meu irmão era como óleo e água
Quando eu saí de casa trouxe muita mágoa
Isso há mais ou menos seis ano atrás
Porra, mó saudade do meu pai
[Verse 14]
Me chamaram pra roubar um posto
Eu tava duro, era mês de agosto
Mais ou menos três e meia, luz do dia
Tudo fácil demais, só tinha um vigia
Não sei, não deu tempo, eu não vi, ninguém viu
Atiraram na gente, um moleque caiu
Prometi pra mim mesmo, era a última vez
Porra, ele só tinha dezesseis
[Verse 15]
Não, não, não, tô afim de parar
Mudar de vida, ir pra outro lugar
Um emprego decente, sei lá
Talvez eu volte a estudar
Dormir a noite era difícil pra mim
Medo, pensamento ruim
Ainda ouço gargalhadas, choro, vozes
A noite era longa, mó neurose
[Verse 16]
Tem uns maluco atrás de mim, qual que é? Eu nem sei
Diz que o Guina tá em cana e eu que caguetei
Logo quem, logo eu, olha só, ó
Que sempre segurei os B.O.
Não, eu não sou bobo, eu sei qual é que é
Mas eu não tô com esse dinheiro que os cara quer
Maior que o medo que eu tinha era a decepção
A trairagem, a pilantragem, a traição
Meus aliados, meus manos, meus parceiro
Querendo me matar por dinheiro
Vivi sete anos em vão
Tudo que eu acreditava não tem mais razão, não
[Verse 17]
Meu sobrinho nasceu
Diz que o rosto dele é parecido com o meu
É, diz, um pivete eu sempre quis
Meu irmão merece ser feliz
Deve estar a essa altura
Bem perto de fazer a formatura
Acho que é direito, advocacia
Acho que era isso que ele queria
Sinceramente eu me sinto feliz
Graças a Deus, não fez o que eu fiz
Minha finada mãe, proteja o seu menino
O Diabo agora guia o meu destino
Se o júri for generoso comigo
Quinze anos para cada latrocínio
Sem dinheiro pra me defender
Homem morto, cagueta, sem ser
Que se foda, deixa acontecer
Não há mais nada a fazer
[Verse 18]
Essa noite eu resolvi sair
Tava calor demais, não dava pra dormir
Ia levar meu canhão, sei lá, decidi que não
É rapidinho, não tem precisão
Muita criança, pouco carro, vou tomar um ar
Acabou meu cigarro, vou até o bar
(E aí, como é que é, e aquela lá, ô?)
Tô devagar, tô devagar
[Verse 19]
Tem uns baratos que não dá pra perceber
Que tem mó valor e você não vê
Uma pá de árvore na praça, as criança na rua
O vento fresco na cara, as estrela, a Lua
Dez minutos atrás, foi como uma premonição
Dois moleque caminharam em minha direção
Não vou correr, eu sei do que se trata
Se é isso que eles querem, então vem, me mata
Disse algum barato pra mim que eu não escutei
Eu conhecia aquela arma, é do Guina, eu sei
Uma três oito zero, prateada, que eu mesmo dei
Um moleque novato com a cara assustada
(Aí mano, o Guina mandou isso aqui pra você)
Mas depois do quarto tiro eu não vi mais nada
[Verse 20]
Sinto a roupa grudada no corpo
Eu quero viver, não posso estar morto
Mas se eu sair daqui eu vou mudar
Eu tô ouvindo alguém me chamar
Written by: Mano Brown
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