Lis

Vi de todas as cores

Vis, de tambor, caçadores

Lis, apareça deveras

não só na estátua do Ares

Hão de chegar ao lugar?

Talvez, se pararem de andar

Não vês? Tem que dividir a casa

Tem que dividir pra casa

Nus, ou todos vestidos

Luz aos que são excluídos

Jus, a todos que morreram por vós

Sendo ou não via ordem atroz

Eles querem de nós

o tempo, a força, a terra

em troca

relógio, trabalho, a guerra

Eu chorei de fome

Eu cantei meu nome

Vim de onde a fome breca o sonho

Vi que a flecha cega quem se apega ao trono

Quis livrar do que sobrecarrega os ombros

de quem se nega ao sono

na meta de não viver por um triz

Declama seu cordel de sangue num bordel de santos

Seca suor no uniforme, enquanto areia escorre

Traga outro maço de cigarro e um sorriso nos lábios

Num inferno onde o menos culpado é o diabo

Se o fardo diário de fato é o que alimenta o desejo

Na mente da mãe preta: fugir do quartinho de despejo

Dispensa comentários, comercializar o desespero é rentável

Como é que põe a cabeça no travesseiro e dorme?

Sabendo que crianças morrem por balas achadas

Família rachada, outra trans agredida por nada

E de nada em nada

transbordei outro rio de lágrimas

Quando notei que a vítima era a minha cara

A sua cara

A minha cara

Se te ascende eles querem

não importa

Se te pedem não serve

te apertam

Se pensa o contrário

te oprimem

Se faz resistência

te acertam

Eles querem que eu faça o que é certo

mas ao certo eu nem sei se isso é justo

Põem sacolas na lista de vetos

mas pagando que queimem os arbustos

Meu suor é o tempero dos lucros

Minha saúde o motivo dos preços

Usam medo pra manter controle

mas divino é o caminho das dores

Eu chorei de fome

Eu cantei meu nome

Podia chover no vale

Chover no vale

Chover no vale

e a minha cara

e a sua cara