Lyrics
escrever a lápis
encorajar a água
que vem dissolvendo
o mapa rançoso
a vingança enrustida
desenhar a lápis
encorajar a água
que vem afastando
a couraça elefante
a crosta pontiaguda
desenhar a lápis
encorajar o sangue
que vem arrancando
seborreias e cistos
escrever a lápis
encorajar a névoa
que vem manando
mansa da terra
(Marcus Groza)
O rancor não é um sentimento puro. O rancor não nasce como rancor. O rancor nasce
como algum sentimento e quando ele dá errado vira rancor. O rancor é ódio de quem não
matou, é amor de quem não engoliu. O rancor é a falha dos outros sentimentos. É a política
do que deu errado. O rancor arranca até o senso de justiça. O rancor arranca.
Rasga.
Rasgar o couro dos contentes e descobrir a cor da carne. Cheirar a cor da carne.
Tocar a cor da carne. Rã Cô desmantela o coro dos contentes e grita o que tem
por trás do muro. As hienas rindo por aí e as lobas a postos. Luas cheias que
demoram e marés que enchem de tédio e raiva. O rancor é quando os outros
sentimentos falham. E nós gostamos das falhas. É que anda tudo tão careta,
beibe, e essa coisa de paz interior... Somos as entranhas como atos políticos.
(Maria Giulia Pinheiro)
Ó meu ódio, meu ódio majestoso,
Meu ódio santo e puro e benfazejo,
Unge-me a fronte com teu grande beijo,
Torna-me humilde e torna-me orgulhoso.
Humilde, com os humildes generoso,
Orgulhoso com os seres sem Desejo,
Sem Bondade, sem Fé e sem lampejo
De sol fecundador e carinhoso.
(João da Cruz e Souza)
Written by: Marcus Groza, Maria Giulia Pinheiro, Natacha Maurer, Rui Barossi