Circo Voador de Última Hora

Ele me feriu

Mas não sabe que feriu

Me chamou pro show do Rubel e eu enrubesci

Circo Voador de última hora e eu respondi de primeira hora

VOU

Ele disse “vai mesmo?” eu disse “VOU” e fui

E iria 3, 4, 5 milhões de vezes

Nós nos encontramos vestidos ainda

Indivíduos ainda

Não podíamos fazer amor

Mas como queríamos amor

Fomos enchendo a barragem, fomos entupindo a barragem

Com besteirinhas e segredinhos ridículos

No fim a água cedeu

E nos entramos naquela…

Mimetizamos cada animal que o outro baixava

E fingíamos que tínhamos mais de uma língua

Que engolia tudo que se mexesse

Buscamos o Sol durante toda a noite

Não vimos nada e nem ninguém

Meu flor deu orvalho mas o pólen se espalhou

E noutro sábado lá estava ele noutra flor

Sem camisa de Vênus

e eu encarcerada, com sede e confiante

eu hercúlea e maravilhosa

segurando a barragem pra ele

mas ele não soube mergulhar

mas ele não soube mergulhar

será que era só eu

que estava pronta

ou será que eu também

não estava pronta

pra deixar meu corpo ser oceano

pra deixar pra lá meus planos cartesianos

pra plantar meu mel no cinza urbano

pra fazer amor

pra te ver humano

Ele me feriu mas

Não sabe que feriu

E na mesma hora virei eu sonho e sonhador

Livre, imaculável alquimia

Onde hoje ele vira meu poema de amor

Ele me feriu e ponto

E na mesma hora

Virei eu mesma o sonho