Cabeça

Cabeça que eu tenha sempre

Para sempre lembrar, matutar

Memória que eu nunca perca

Para nunca esquecer

Que tudo começou há muito tempo

E há tenta coisa ainda por fazer, claro

E sem saber daquilo que é passado

O presente fica sempre mais difícil de se entender

E de repente toda a gangue grita

E me convida pra uma festa, e modesta

E cai numa gandaia, vaia, berra

Desatina, desembesta

Eu brinco vendo um copo de aguardente

Esquecido lá no canto pro santo

De alguém que algum dia nos sorria

Após aquela batalha e, no entanto

É hoje apenas uma das lembranças

É o brilho que realça as minhas danças

Ferida que aquele que viveu a nossa etapa

Vai levar por toda via

Seu sangue é o vinho que alimenta

A necessária alegria

E em mim a alegria

É coisa muito mais que realizada

E quem sou eu pra dar conselhos

E cortar a da moçada?

Eu fico rindo com a boca bem cheia

De seus dentes reluzentes

E no meu quengo eu repito

E digo calmamente

Cabeça que eu tenha sempre

Para sempre lembrar

Memória que eu nunca perca

Para nunca esquecer

Que apenas sou uma pessoa

E que devo sempre estar presente

Cantando, repetindo, renovando

O que o meu coração doido sente

E em mim a alegria

É coisa muito mais que realizada

E quem sou eu pra dar conselhos

E cortar a da moçada? Que nada!

Eu fico rindo com a boca bem cheia

De seus dentes reluzentes

E no meu quengo eu repito

E digo mui calmamente, diz

Cabeça que eu tenha sempre

Para sempre lembrar, matutar, maturar

Memória que eu nunca perca

Para nunca esquecer, viver

Que apenas sou uma pessoa

E que devo sempre estar presente

Cantando, repetindo, renovando

O que o meu coração doido sente